Dom Fernando Arêas Rifan
Administrador Apostólico Pessoal São João Maria Vianney
Administrador Apostólico Pessoal São João Maria Vianney
Dia 22 próximo, a Igreja celebra a festa
do mártir Santo Tomás More. Lorde Chanceler do Reino da Inglaterra, por
não ter aceitado o divórcio e o cisma do rei Henrique VIII, foi
condenado à morte por traição e decapitado em 1535. Preferiu perder o
cargo e a vida a trair sua consciência. A Igreja o proclamou padroeiro
dos Governantes e dos Políticos, exatamente porque soube ser coerente
com os princípios morais e cristãos até ao martírio. O belo filme da sua
vida, em português, que recomendo, intitula-se “O homem que não vendeu
sua alma!”.
A coerência é uma virtude cristã que
deve penetrar todas as nossas ações e atitudes. Pensar, viver e agir
conforme a nossa fé e nossas convicções cristãs. Caso contrário, seremos
hipócritas e daremos um grande contra-testemunho do nosso cristianismo.
A consciência é única e unitária, e não dúplice. Não se age como
cristão na Igreja e como pagão fora dela.
“O Concílio exorta os cristãos, cidadãos
de ambas as cidades [terrena e celeste], a que procurem cumprir
fielmente os seus deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho.
Afastam-se da verdade os que, sabendo que não temos aqui na terra uma
cidade permanente, mas que vamos em demanda da futura, pensam que podem
por isso descuidar os seus deveres terrenos, sem atenderem a que a
própria fé ainda os obriga mais a cumpri-los, segundo a vocação própria
de cada um. Mas não menos erram os que, pelo contrário, opinam poder
entregar-se às ocupações terrenas, como se estas fossem inteiramente
alheias à vida religiosa, a qual pensam consistir apenas no cumprimento
dos atos de culto e de certos deveres morais. Este divórcio entre a fé
que professam e o comportamento quotidiano de muitos deve ser contado
entre os mais graves erros do nosso tempo” (Gaudium et Spes, 43).
O ensinamento social da Igreja não é uma
intromissão no governo do País, mas traz um dever moral de coerência
aos fiéis leigos, no interior da sua consciência. “Não pode haver, na
sua vida, dois caminhos paralelos: de um lado, a chamada vida
‘espiritual’, com os seus valores e exigências, e, do outro, a chamada
vida ‘secular’, ou seja, a vida de família, de trabalho, das relações
sociais, do empenho político e da cultura” (Beato João Paulo II,
Christif. Laici, 59).
“Reconhecendo muito embora a autonomia
da realidade política, deverão se esforçar os cristãos solicitados a
entrarem na ação política por encontrar uma coerência entre as suas
opções e o Evangelho” (Paulo VI, Octogésima Adveniens, 46). “Também para
o cristão é válido que, se ele quiser viver a sua fé numa ação
política, concebida como um serviço, não pode, sem se contradizer a si
mesmo, aderir a sistemas ideológicos ou políticos que se oponham
radicalmente, ou então nos pontos essenciais, à sua mesma fé e à sua
concepção do homem...” (idem, 26).
No atual clima de corrupção e venalidade
que invadiu o sistema político, eleitoral e governamental, possa o
exemplo de Santo Tomás More ensinar aos governantes e políticos, atuais e
futuros, que o homem não pode se separar de Deus, nem a política da
moral, e que a consciência não se vende por nenhum preço, mesmo que isto
nos custe caro e até a própria vida.
Fonte CNBB
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